A arte de ler em voz alta para crianças
Sim, podemos considerar a leitura em voz alta para crianças uma arte – não por ser uma tarefa difícil, mas sim porque esta prática envolve mais do que o simples ato de abrir um livro.
Mais do que recitar palavras…, ler em voz alta para crianças é usar a entoação certa, a pausa estratégica, a emoção transmitida pelas palavras. Ler em voz alta não é uma questão de teatralidade, mas sim de enfatizar a musicalidade da palavra. O adulto — o pai, a mãe, o cuidador — é, por excelência, o texto da criança, porque empresta voz, rosto e abrigo para que ela possa ler, ao entregar-se ao momento com as suas próprias emoções e memórias.
Ler em voz alta é, também, um convite à união, ao desenvolvimento de afeto, ao tempo de qualidade. É um resgate ao estar presente no momento, num mundo frenético, que está sempre on-line; é um resgate dos vínculos e laços emocionais que são criados através do simples ato de leitura.
Ler em voz alta é, ainda, alimento. A criação de uma rotina dedicada à leitura desde os primeiros dias da vida do bebé é como plantar sementes de curiosidade e amor pelos livros. A leitura em voz alta representa o início da formação do bebé enquanto leitor, uma vez que este aprende a reconhecer o conforto da linguagem, ao mesmo tempo que recebe afeto e segurança e é embalado pela voz do adulto mediador.
E qual será a melhor altura para iniciar esta rotina de leitura em voz alta para as crianças? Tal como Jim Trelease diz, se já falam, de alguma maneira, para as crianças, então já podem ler para elas.
E não, não há uma regra que nos diga o que devemos ler para elas, porque podemos ler o que quisermos, desde que a nossa voz seja acolhedora e estejamos a comunicar com o bebé. No entanto, a ciência e a experiência nas sessões de leitura dizem-nos que os poemas, histórias com rimas, lengalengas ou onomatopeias fazem sempre sucesso.
Para terminar, deixamos-vos as palavras de John Hutton, fundador do programa Ler em voz Alta durante 15 minutos:
"Se a leitura em voz alta fornece nutrientes saudáveis e saborosos para o cérebro da criança, livros adequados são apenas parte da receita; o adulto mediador é o ingrediente principal. É quem dá sabor [às palavras]."
Boas leituras,
Beatriz